domingo, 26 de outubro de 2008

ANÁLISE DE UMA INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NO DESENVOLVIMENTO MOTOR ESCOLAR EM UM GRUPO DE CRIANÇAS QUE APRESENTAM CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTAIS DE DÉFIC

ANÁLISE DE UMA INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NO DESENVOLVIMENTO MOTOR ESCOLAR EM UM GRUPO DE CRIANÇAS QUE APRESENTAM CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTAIS DE DÉFICIT DE ATENÇÃO
Elaine RomeroProfessora do Mestrado de Motricidade Humana da Universidade Castelo Branco
Janaina AguiarAluna de Iniciação Científica da Universidade Federal do Espírito Santo
RESUMO. O propósito desta investigação foi analisar uma intervenção pedagógica durante as aulas de educação física escolar, no desenvolvimento motor e escolar em um grupo de crianças de 1a e de 2a série que apresentam características de Déficit de Atenção. O estudo foi quanti-qualitativo, com participação e intervenção direta no grupo de crianças. Os sujeitos foram aproximadamente vinte e seis escolares, de ambos os sexos com idade compreendida entre sete e nove anos, cursando o Bloco Único de baixa renda familiar, em escola pública do município da Serra/ES. Os instrumentos empregados na coleta de dados foram; 1) roteiro de anamnese psicológico, 2) teste HTP, 3) teste de Bender e 4) teste para avaliar a definição da lateralidade, 5) teste de atenção concentrada, 6) teste de atenção distribuída e 7) ditado. Os testes psicológicos foram aplicados por uma especialista da área e o teste de lateralidade e o roteiro de anamnese ficou a cargo das pesquisadoras. Os resultados revelaram que de um modo geral, crianças com pouca capacidade de atenção e de concentração podem apresentar dentre outros, problemas quanto a definição da lateralidade. Os dados levantados permitiram concluir ainda que distúrbios na capacidade de atenção, falta de definição da lateralidade, aliados a problemas de ordem social e econômica comprometem consideravelmente o desempenho e/ou rendimento escolar. Quanto à intervenção pedagógica, o momento das aulas de educação física pode ser de grande auxílio para as crianças. A prática de atividades físicas que favoreçam o desenvolvimento da lateralidade, atenção entre outras, podem promover a obtenção de resultados positivos, principalmente no que se refere ao processo ensino-aprendizagem motor e escolar.
Palavras-chaves:
Educação Física Escolar
Desenvolvimento motor
Déficit de atenção
ABSTRACT: The target of this investigation is to analyse a pedagogic intertwine during the physical education classes at school, observing the motor and school development of a children group of the first and second levels that showed lack of attention characteristics. The study was both qualitative and quantitative, with the direct participation and interrelation of the children group. We worked with 26 subjects, male and female, with the range age from seven to nine years old, attending classes at "Bloco Único" formed by low familiar income, at a government school in the city of Serra/ES. The instruments used in the data collection were: 1)routine of psychological anamnesis; 2) HTP test; 3) Bender test; 4) assessment test to evaluate the laterally definition; 5) Concentrated attention test; 6) Distributed attention test; and 7) dictation. The psychological tests were placed by an specialist in the area and the laterality test and the anamnesis routine were placed by the researchers. The results shown that in general, children with very few attention capacity and concentration may present, among others, problems of laterally. The data obtained let us conclude that some disorders in the attention skill, lack of laterally definition, together with social and economic problems considerably affect the development and or improvements at school. About the pedagogic intertwine, the period of the physical education classes may be of an increase help for the children. The practice of physical activities to help the latterly, and attention development among others activities may promote positive results, principally in what is related to the process of learning and teaching motor and school activities.
Keywords:
Physical education at school
Motor development
Lack of attention
1 - INTRODUÇÃO
Sabe-se que o sistema educacional do País há muito vem se caracterizando por algo fracassado e falido. O número de reprovações e de alunos evadidos apresentam índices ainda muito alarmantes e preocupantes conforme denúncia PARAÍBA (apud MAGALHÃES, 1983, p. 22) que "de cada 1000 crianças que iniciam a 1ª série, apenas 438 chegam à segunda, 352 à terceira, 297 à quarta, e apenas 294 à quinta ". A autora, a partir desses dados afirma: " Poder-se ia estimar que dessas 1000 crianças inicias, apenas 180 chegariam a concluir o primeiro grau". O ponto do sistema é a passagem de primeira para a segunda série, onde as taxas de evasão e de repetência no Brasil chegam a 56% (taxa essa que permanece estável a mais de 40 anos)". Cabe ressaltar no entanto, que ações e providências têm sido tomadas por parte de vários pedagogos, professores e psicólogos a fim de modificar esse quadro atual da educação. A implementação do Bloco Único é um bom exemplo de proposta que vem sendo aplicada nas escolas da rede municipal de Vitória/ES, com intuito de reduzir o número de reprovações assim como também o número de crianças que por vários motivos se encontram fora da escola. Não se sabe se estas iniciativas têm surtido efeitos positivos pois, com base na experiência vivenciada pela autora bolsista em uma das escolas da rede oficial da Prefeitura Municipal da Serra/ES, a impressão que se tem é que com estas novas propostas, tem se garantido e cobrado o mínimo em nível de aprendizagem Em se tratando desse tema, NOVAES (1970, p. 123) faz uma distinção entre capacidade de aprendizagem, rendimento escolar e nível de escolaridade. Segundo a autora "a capacidade de aprendizagem é a potencialidade de aprender ligada ao nível intelectual do indivíduo mas nem sempre correlacionados, uma vez que pode estar prejudicado por outros fatores. O nível de escolaridade relaciona-se com as aquisições escolares efetuadas pela criança e o rendimento escolar diz respeito à quantidade conseguida pelo aluno ao realizar sua atividades e tarefas escolares estando relacionado ao gasto de energia despendida. Para a mesma autora (op. cit., p. 122), entre as dificuldades para a aprendizagem destacam-se: 1) fraca capacidade de atenção, concentração, assimilação e compreensão; 2) raciocínio lento; 3)dificuldades de memória, de raciocínio numérico, de linguagem oral e escrita; 4) falta de continuidade e persistência na aprendizagem escolar, de hábitos de estudo e de interesse pelo estudo. Muitas vezes, tarefas como aprender a ler e escrever exigem da criança um trabalho intenso. O não desenvolvimento harmônico de aspectos psicomotores, como por exemplo dificuldades em relação a lateralidade, podem também tornar o aprendizado das tarefas acima citadas (dentre outros), ainda mais complicadas. Em certos casos, a indefinição da lateralidade parece ser a causa de desequilíbrios e perturbações, podendo haver dificuldades especialmente na aprendizagem da leitura. Dentre os problemas detectados nas crianças com dificuldades na lateralidade encontra-se a dislexia, distúrbio caracterizado pela dificuldade de identificar, compreender e interpretar símbolos gráficos da leitura. E retomando NOVAES (op. cit., p. 234), esta assegura que: "de modo geral os disléxicos apresentam déficits no domínio da percepção da motricidade, da organização têmporo-espacial, do esquema corporal, na dominância lateral, podendo ser acrescentados distúrbios da atenção, da memória (...)". Diante dos vários tipos de dificuldades que estas crianças apresentam, àquelas relacionadas anteriormente, aliadas à problemas detectados em sala de aula e relatados pelas professoras, obrigaram-nos a uma incursão pela literatura a fim de buscar um suporte teórico que pudesse melhor caracterizar o quadro de comportamento descrito. Alunos "sem sossego", comportamento esse que pode ser enquadrado, de acordo com a literatura, como crianças com Déficit de Atenção". E neste particular GOLFETO (1993, p. 25-6). manifesta-se asseverando que (...) As crianças com Déficit de Atenção apresentam um conjunto de sintomas e sinais que podem facilmente ser observados. Elas chamam atenção facilmente o que difere de outros tipos de patologia neurótica que muitas vezes só pode ser detectado por especialistas. De acordo com KELLY & AYLWARD (1992., p. 485-6), a desatenção (aspecto clínico central); a impulsividade; a agitação motora e hiperatividade (em um subgrupo de crianças), são características bastante comuns para possibilitar a descrição de Déficits de Atenção. E afirmam os autores que "os aspectos importante que freqüentemente são despercebidos incluem a inconsistência e a dificuldade de manter um esforço mental". E prosseguindo na exposição, os mesmos são acordes de que as crianças com Déficit de Atenção começam muitas vezes as tarefas apropriadamente, porém logo sentem fadiga cognitiva e esmorecem. A ‘’inconsistência do desempenho" resulta em que essas crianças experimentem dias ocasionais de funcionamento acentuadamente melhorado (KELLY & AYLWARD, op. cit., p. 486). GOLFETO, (op. cit., p. 06) completa dizendo que nos últimos anos o termo diagnóstico "Transtorno de Déficit de Atenção usado para essas síndromes, sugere a inclusão de crianças ansiosas, preocupadas, sonhadoras, apáticas, cujos problemas são provavelmente diferentes". A hiperatividade é queixa freqüente dos pais, que reclamam que o filho "não tem sossego", não se mantêm sentado durante as refeições, é incapaz de sentar para ver televisão durante algum tempo e faz movimentos desnecessários com o corpo. Por outro lado a professora relata que a criança não fica parada e que perturba o comportamento da classe. A criança hiperativa é assim descrita como desajeitada, desastrada, sua marcha é pouco harmoniosa e seus gestos são bruscos. Apresenta dificuldade para arremessar ou golpear bola, aprender a patinar, andar de bicicleta, pular corda, subir em muros e árvores. A incoordenação motora fina é outra característica marcante: pode ser incapaz de abotoar suas vestes, de fazer recorte com tesoura, cantar com ritmo e gasta mais rapidamente suas roupas e sapatos que as crianças normais. "Nessa síndrome a criança apresenta dificuldade em discriminar a direita da esquerda, em orientar-se no espaço, em fazer discriminações auditivas e em elaborar sínteses auditivas. Apresenta alterações de memória visual e auditiva. A outra característica importante é a má estruturação do esquema corporal." (GOLFETO, 1992, p. 12) Apesar de muitas dessas crianças apresentarem uma inteligência normal, muitas delas tem dificuldades de aprendizagem. SILVER (apud GOLFETO op. cit., p. 12), relata que 85% dessas crianças apresentam distúrbios de aprendizagem. Apesar de não se ter um conhecimento muito claro sobre sua origem/causas, alguns estudos têm demonstrado que o cérebro das crianças caracterizadas como portadoras do Déficits de Atenção apresentam variações na estrutura e alterações no fluxo sangüíneo e no metabolismo regional quando comparados a indivíduos normais. Essas diferenças no sistema neural acarretariam determinadas disfunções. Não se sabe ainda a causa e até que ponto as características oriundas desta diferenciação são exclusivas das crianças com características do Déficits de Atenção. No entanto, cabe ressaltar que de acordo com KELLY & AYLWARD (op. cit., p. 487), algumas condições tais como: complicações perinatais; ingestão de álcool e utilização de drogas durante a gravidez; infecções do sistema nervoso central na primeira infância; efeitos nocivos dos níveis sangüíneos relativamente baixos de toxinas ambientais como o chumbo e os efeitos colaterais de certas mediações, predispõem a Déficits de Atenção. Ainda são apontadas causas ambientais como: desvantagem social, famílias numerosas e superlotação. Sabe-se que esses fatores sociais têm ampla influência etiológica sobre o comportamento e que podem afetar enormemente as características comportamentais da criança. Além disso GOLFETO acrescenta ainda que o Déficit de Atenção tem origem genética, sendo facilmente transmitido de pai para filho. (...) há evidências de que a síndrome tenha várias etiologias distintas formando, assim, vários subgrupos, ou ainda, que a interação desses fatores etiológicos possam ocorrer e produzir a síndrome (GOLFETO, op. cit., p. 8). Em edição recente da revista VEJA ( 1996, p. 18) constou a seguinte nota: "a chance de uma criança sofrer de hiperatividade e Défict de Atenção aumenta se a mãe fumar na gravidez. Médicos da Universidade de Harvard notaram que 22% dos pacientes estudados eram filhos de fumantes. Entre a população sadia, 8%. Não há até o presente momento, enquanto se pode averiguar na literatura, testes específicos para avaliar Déficits de Atenção, em que pese o avanço científico, a medicina ainda não tem dados que sejam capazes de fornecer explicações para muitas das incógnitas que envolvem o cérebro humano. Contudo testes como Visc, Toulouse Cambraia e MPM (medida de prontidão mental) dentre outros podem ser utilizados para aferir a atenção. Enquanto se sabe são escassos os trabalhos em Educação Física que buscam centrar seu foco no Déficit de Atenção, dado que este assunto tem sido objeto de estudo de psicólogos clínicos e escolares bem como de pedagogos. A possibilidade de se obter dados e socializá-los, representam uma perspectiva de avanço no conhecimento para a área da Educação Física. A partir dessas colocações iniciais sentido este estudo teve por objetivo diagnosticar através de instrumentos específicos o perfil psicológico dos sujeitos da pesquisa, averiguar a lateralidade do grupo e mediante resultados fazer uma intervenção pedagógica no desenvolvimento motor e escolar em um grupo de crianças que apresentavam características comportamentais de Déficit de Atenção. As questões que nortearam a pesquisa ficaram circunscritas aos questionamentos de se averiguar 1) a relação entre Déficit de Atenção e rendimento e/ou desempenho escolar; 2) o perfil psicológico dos sujeitos da pesquisa; 3) a relação entre definição de lateralidade e rendimento e/ou desempenho escolar.
Definição das Variáveis.
Rendimento Escolar - resultado de todo o trabalho escolar desenvolvido durante um determinado período de tempo.
Desempenho Escolar - eficiência e/ou competência para executar um trabalho, atividade, etc.
Lateralidade - predomínio motor de um lado do corpo sobre o outro, externalizado pela preferência lateral de um lado do corpo sobre outro.
2. METODOLOGIA
Esta investigação foi de natureza quanti-qualitativa; quantitativa porque se fizeram necessários dados numéricos, que ajudam a melhor descrever o perfil psicomotor dos sujeitos. Foi qualitativa porque esteve orientada para a solução de problemas sociais e nesse entendimento se caracteriza como uma pesquisa participante, visto que desde o início, envolve no processo de pesquisa os membros da comunidade com intervenção do pesquisadoras no grupo de estudo. Os sujeitos do estudo foram aproximadamente vinte e seis escolares, de ambos os sexos, com idade compreendida entre sete e nove anos. Todos cursando (a 1a ou 2a série) do Bloco Único e escolhidas intencionalmente. O critério desta escolha foi o baixo rendimento escolar apontado pelas professoras (professora de classe e professora de Educação Física). O estudo foi desenvolvido em uma escola de 1º grau localizada no município da Serra/ES, que atende a uma clientela de baixa renda familiar.
Os Instrumentos utilizados nesta pesquisa foram:
roteiro de anamnese psicológico, com o propósito de fazer uma avaliação da história de vida dos sujeitos do estudo;
teste HTP, teste com o objetivo de diagnosticar o perfil psicológico dos sujeitos da pesquisa. Através deste teste foi possível avaliar características como por exemplo, inteligência, fase de desenvolvimento, relacionamento interpessoal e com o meio, onde vive;
teste de Bender, teste clinico psicológico, através do qual se estudou a percepção de formas e sua reprodução. Teve como finalidade auxiliar na avaliação da personalidade das crianças envolvidas no estudo;
teste de Lateralidade, teste que objetivou avaliar a definição da lateralidade dos sujeitos;
diário de campo, este instrumento se efetivou durante o processo ensino-aprendizagem, por meio de observação, análise e registro dos dados coletados. Possibilitou um acompanhamento do desenvolvimento global dos sujeitos em três aspectos: cognitivo, psicomotor e sócio-emocional;
Teste de Cambraia (atenção concentrada), instrumento utilizado para medir a atenção concentrada;
Teste de atenção distribuída, teste empregado para medir a atenção distribuída;
Ditado de palavras, com intuito de averiguar déficits de aprendizagem.
Para o procedimento de coleta de dados foram necessários dois momentos; o primeiro, no qual participou uma profissional da área de psicologia, aplicando os testes específicos, que foram feitos na própria escola, em uma sala com condições propícias para a realização dos mesmos. No segundo, uma intervenção direta com atuação junto aos alunos na escola supra mencionada. Os dados foram coletados durante as aulas de Educação Física.
3. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Com o intuito de melhor esclarecer os dados que seguem alertamos para o fato de que o número de sujeitos nem sempre coincidirá para todos os testes. Isto se deve à aplicação dos testes aos alunos apontados como problemáticos, embora toda turma tenha tido a intervenção pedagógica.
3.1. Apresentação dos dados (apresentaremos apenas alguns dos sujeitos a fim de otimizar o espaço no periódico)
NOME DO
SUJEITO
DATA DE
NASCIMENTO
ESCOLA-RIDADE
WALLACE
(sujeito13-)
14/10/84
11 anos
2a Série
Filho de pais Lavradores, os quais dizem não ter sido sua concepção planejada, sendo que seu parto desenvolveu-se de forma natural. Esta criança revela-se inibido, com comportamento retraído, isto é, ajustou-se sujeitando-se à inspeção adulta e reprimiu a aceitação de seu impulso e de sua responsividade emocional. Exprime dificuldade de aprender novas estruturas imaginativas, com inteligência abaixo da média de seu grupo de convívio. Apresenta pobreza de impulsos em sua personalidade, sendo a mesma constrita, com canais de expressão inadequados. Denota atitude defensiva ao manter contato com o outro, com afeto embotado, o que impede o estabelecimento de relações emocionais significativas. Exibe certo desvio do controle visomotor, instabilidade psíquica e ambivalência de comportamento, bem como certo primitivismo sexual, com escasso controle de seus impulsos. Sua agressividade é aparente, principalmente a verbal, contudo a mesma é mantida sob controle.
NOME DO
SUJEITO
DATA DE
NASCIMENTO
ESCOLA-RIDADE
CLEIZIANE
(sujeito 3)
29/01/88- 8anos
2a Série
Criança filha de pai Funcionário Público e mãe Doméstica. Os mesmos relatam que sua concepção foi indesejada, contudo aceita posteriormente, tendo nascido de parto natural. Afirma-se que a criança alimenta-se bem e que atravessou até então as etapas do desenvolvimento de forma adequada. Não houve repetência em seu currículo escolar. Quando avaliado demonstrou sentimentos de inadequação ao ambiente, de isolamento e inacessibilidade, o que revela uma atitude de inibição, passividade e fuga frente ao meio. Infere-se daí que perceba a boa relação familiar como inatingível, pois provavelmente nunca teve ou não manteve um contato sadio, satisfatório com um adulto significativo para ela. Dessa forma, reserva-se e constringe seus canais de expressão de necessidades por medo ou excessivo atrito nas relações interpessoais. Contudo ajustou-se ao meio ambiente, sujeitando-se a inspeção adulta e reprimindo a aceitação de seus impulsos e de sua responsividade emocional, demonstrando uma sensibilidade defensiva, racionalidade, mas também excessiva fantasia. A menina tende a fiscalizar a impulsividade presente, sendo capaz de manejar a ansiedade, para que a mesma não fuja de seu controle. Revela imaturidade emocional e psicossexual, que atinge a esfera intelectual, sendo lenta sua capacidade de compreensão e irregular seu desenvolvimento perceptual, o que dificulta o aprendizado. Possui energia vital para atuar, originalidade, organicidade e sã vivacidade, podendo-se afirmar melhor utilização de recursos manuais que intelectuais.
3.2. O RELATO CONCLUSIVO DA A RESPEITO DO GRUPO ESTUDADO
Os resultados dos sujeitos supra citados, juntamente com os dos demais, permitiu à equipe de psicólogos apresentar os dados sobre a escola e sobre os sujeitos estudados. E inferiu-se que a escola tem como principais características, o espaço físico (salas de aula e área de lazer) e carteiras, bem como material didático inadequados e insuficientes, percebendo-se uma quantidade de alunos por sala exagerado e um despreparo das professoras tratando-se esta de uma entidade pública financiada pela Prefeitura Municipal de Serra/ES. São alunos cujas famílias pertencem a classe pobre, residentes em bairros também precários. A gestação de tais crianças foi geralmente indesejada, sem planejamento prévio, com tratamento pré-natal deficiente, têm mais de três irmãos e não recebem orientação adequada da família e da escola a respeito de sexualidade, por exemplo. Nestas famílias verificou-se alta incidência de alcoólatras, deficientes mentais, jogadores e portadores de problemas nervosos. A partir deste contexto social pudemos inferir que, em sua maioria, são crianças inadaptadas socialmente, com predomínio de insegurança, impulsividade e imaturidade psicossexual. Algumas apresentam sentimentos de expansão, agressividade despejada no meio, inquietude e escasso controle dos impulsos, em contrapartida outras são inibidas, reprimidas na expressão de seus sentimentos, depressivas e muitas vezes voltadas para o concretismo e materialismo, o que revela também sua forma de inadaptação que reflete muitas vezes conflitos familiares, falta de apoio e alto nível de pressão social. Demonstram uma carência de afeto e atenção, o que provavelmente justifica uma dificuldade de apreensão de fatos novos e conseqüentemente, distúrbios de aprendizagem e atenção, corroborando sua falta de interesse pelos assuntos escolares. Na segunda fase deste estudo acreditou-se ser mais proveitoso a utilização de testes de atenção concentrada, atenção distribuída e um ditado com objetivo de aferir habilidades específicas, visto que, devido a falta de tempo (Greves Estaduais) e a certeza de que pouco progresso estrutural poderia ser notado após a 1ª avaliação (aplicação do HTP e do Bender). Nossa expectativa é poder concluir como estão nossas crianças, nestes aspectos específicos e saber se houve alguma alteração na sua forma de percepção. Estes testes, cuja função primordial é a obtenção do grau de atenção do avaliando, nos auxilia na conclusão sobre a dificuldade destas crianças de lidarem com atenção.
3.3. APRESENTAÇÃO DOS DADOS REFERENTES AO TESTE DE ATENÇÃO CONCENTRADA
Este instrumento quando foi criado, teve como objetivo medir a aptidão que se convencionou a chamar "AC" Atenção Concentrada. Na experimentação, tal teste foi aplicado em 820 indivíduos distribuídos em quatro categorias de escolaridade:
Categ."A"
Curso Primário
Categ."C"
Curso Colegial
Categ."B"
Curso Ginasial
Categ."D"
Curso Superior
Neste estudo trabalhamos sempre com a Categoria A, a qual se refere ao primário incompleto. Quando de aplica esse tipo de teste psicológico é utilizada uma escala de comparação com resultados obtidos com um grupo usado como padrão, onde são estabelecidas categorias que permitem classificar os indivíduos em escalas de percentuais como SUPERIOR, MÉDIA SUPERIOR, MÉDIA, MÉDIA INFERIOR e INFERIOR. Esta escala permite dizer quantos sujeitos da pesquisa obtiveram resultados abaixo de determinado número. Ao interpretar os dados obtidos consideramos que o indivíduo obteve um resultado aquém, igual ou além da população que serviu de base à padronização da prova, com categorias baseadas na curva normal de probabilidades. Podemos então enquadrar os resultados dentro das seguintes categorias dispostos na TABELA 1.
TABELA 1
DADOS RELATIVOS AO TESTE
DE ATENÇÃO CONCENTRADA
CATEGO-RIA
PERCEN-TUAL
VALORES
N0 de SUJEITOS
01
0 a 24 %
IN
14
02
25 a 34 %
MI
1
03
35 a 64 %
ME
1
04
65 a 75 %
MS
1
05
75 % acima
SU
1
Os dados da TABELA 1 podem ser melhor visualizados no GRÁFICO 1, a seguir.
GRÁFICO 1
DISTRIBUIÇÃO DOS SUJEITOS EM RELAÇÃO AOS VALORES OBTIDOS NO TESTE DE ATENÇÃO CONCENTRADA
Detalhando melhor os dados obtidos vemos que na Categoria 1 14 pessoas conseguiram realizar somente 24% de teste, recebendo INFERIOR (IN). Na Categoria 2, a denominação é de MÉDIO INFERIOR (MI), para aqueles que conseguiriam um resultado entre 25 a 35% de realização da prova, o que ocorreu com 1 sujeito da pesquisa. Na Categoria 3, dá-se a denominação de MÉDIO (ME) , para os que obtiveram um resultado entre 35 e 65% da prova, apontou que 1 sujeito com este escore. Na Categoria 4, MÉDIO SUPERIOR (MS), para realização de 65 a 75% do teste, somente 1 sujeito da pesquisa ficou nesta categoria. Finalmente na Categoria 5, SUPERIOR (SU), para aqueles com sucesso acima de 75% da prova, e este resultado obtido por apenas 1 sujeito da pesquisa.
3.4 APRESENTAÇÃO DOS DADOS RELATIVOS AO TESTE DE ATENÇÃO DISTRIBUÍDA
O teste de atenção distribuída foi empregado para avaliar a capacidade do sujeito de identificar e relacionar prontamente estímulos do campo perceptivo, utilizando-se de esquemas de ação simples, com reduzido grau de complexidade, não exigindo esforço intelectual elaborado. Os resultados estão dispostos a seguir.
TABELA 2
DADOS RELATIVOS AO TESTE
DE ATENÇÃO DISTRIBUIDA
CATEGORIA
PERCEN-TUAL
VALORES
N0 de SUJEITOS
01
0 a 30 %
IN
9
02
21 a 45 %
MI
3
03
46 a 59 %
ME
1
04
60 a 79 %
MS
2
05
80 a 100 %
SU
3
Os dados da TABELA 2 poderão ser melhor analisados no GRÁFICO 2 que a seguir expomos.
GRÁFICO 2
DISTRIBUIÇÃO DOS SUJEITOS EM RELAÇÃO AOS VALORES OBTIDOS NO TESTE DE ATENÇÃO DISTRIBUÍDA
Neste teste dos 18 sujeitos testados, 9 obtiveram resultados de percentuais até 30% da prova, enquadrando-se na Categoria 1 (IN). 3 sujeitos conseguiram de 31 a 45% do percentual da prova, enquadrando-se na Categoria 2 (MI), e 1 sujeito obteve o percentual de 46 a 59% na prova, classificados na Categoria 3 (ME).
3.5. APRESENTAÇÃO DOS DADOS RELATIVOS AO DITADO
Foi aplicado um ditado com dez palavras, de grafia simples, visando observar como estava o conhecimento do grupo de crianças, e se correspondia ou não a sua faixa escolar. As palavras escolhidas foram de natureza simples, mas com sílabas que propiciassem a troca de letras, devido a lateralidade mal formada. As palavras escolhidas foram BOLA, DADO, PIPA, CLARO, PLANTA, BRAÇO, PATO, BANANA, PRATO, DRAGÃO.
TABELA 3
DISTRIBUIÇÃO DE CATEGORIAS, PERCENTUAIS, VALORES E O NÚMERO DE SUJEITOS NA AVALIAÇÃO DO DITADO
CATEGO-RIA
PERCEN-TUAL
VALORES
N0 de SUJEITOS
01
0 a 24 %
IN
7
02
25 a 34 %
MI
1
03
35 a 64 %
ME
7
04
65 a 75 %
MS
0
05
75 % acima
SU
3
DITADO
Na aplicação do ditado, as palavras foram pronunciadas com bastante clareza e repetidas várias vezes, até se ter certeza que todos tivessem ouvido e memorizado, ou escrito. Para a cotação dos resultados pontuamos cada palavra como um ponto ganho, portanto o ditado completo tinha dez pontos. Desta forma corrigiu-se considerando como acerto as palavras grafadas corretamente. Utilizou-se para tabulação a TABELA3 na qual verificamos que das dezoito crianças que participaram da testagem, sete não conseguiram ultrapassar vinte e cinco por cento da prova, o que significava ter escrito três palavras corretamente. Outras sete conseguiram completar metade do ditado, e apenas três crianças, estão com uma grafia boa, pois atingiram mais de setenta e cinco porcento da prova, ou seja, acima de oito palavras corretas.
QUADRO 1
DADOS EXPOSITIVOS DOS RESULTADOS GLOBAIS
NOME
ATENÇÃO CONCEN-TRADA
ATENÇÃO DITRIBUÍ-DA
DITADO
Taís
IN
MI
SU
Bruno
IN
MI
ME
Idney
IN
IN
MI
Robson
IN
IN
IN
Walace Neves
IN
SU
ME
Sadraque
IN
IN
ME
Walace Gomes
IN
IN
IN
Bruna da Silva
IN
IN
IN
Ana Flávia
IN
IN
IN
Maxsuel
IN
IN
IN
Rosiane
IN
MI
ME
Kamile
IN
IN
IN
Clesiane
IN
MS
ME
Rosimere
IN
IN
IN
Weverton
MI
SU
ME
Adriano
ME
ME
ME
Jéssika
MS
MS
SU
Regimara
SU
SU
SU
3.6. RESULTADOS DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
A aplicação destes instrumentos foi uma tentativa de obtermos com maior rapidez e precisão a atenção dessas crianças. Isto por entendermos que esta característica é primordial para alfabetização, bem como para seu desenvolvimento psicomotor. O teste foi aplicado em 18 sujeitos e notou-se que mais da metade dos testados obtive resultados inferiores à média, no que se refere a Atenção Concentrada. Contudo, apresentaram maior equilíbrio na atenção distribuída e na grafia das palavras. Este dado é revelador de uma dificuldade de concentração da maioria dos testados, o que podemos inferir como resultante da escassez de estímulos do meio carente em que vivem, bem como a baixa nutrição alimentar propiciando dessa forma o não desenvolvimento de tal aptidão. Tendo em vista a deficiência do ambiente no atendimento das necessidades básicas dos sujeitos, é significativa a influência desse fator na capacidade de ação para efetuar uma atividade com eficiência. Devemos considerar também nesse estudo a faixa etária das crianças testadas, que cronologicamente se encontram no "período de latência". Muitos estudiosos consideram esta fase propícia ao aprendizado escolar, já que é o momento em que os sentimentos internos encontram-se equilibrados, pois foram solucionadas questões psíquicas que causavam ansiedade, conseqüentemente dificuldade para reter atenção no aprendizado sistematizado. Foi possível constatar que as crianças testadas encontram-se em estágios psíquicos anteriores ao citado acima, o que deve ser considerado como uma variável que interfere no resultado do teste, dado este proveniente da primeira avaliação realizada com estas crianças. Outro ponto a ser considerado é que algumas crianças conseguem distribuir sua atenção ainda de forma produtiva, o que vem corroborar com o comentário anterior, justificando que por estarem em fases de desenvolvimento anterior, ainda possuem sua atenção distribuída mais forte, em busca de estimulação e aprendizado mais social, para depois poderem aterem-se a estimulações que exijam a concentração.
3.7. APRESENTAÇÃO DOS DA-DOS REFERENTES AOS TESTES DE LATERALIDADE
A bateria para dominância lateral foi constituída de nove testes três para mãos, três para pés e três para olhos, e no que diz respeito aos pré-testes de lateralidade os dados obtidos são como segue no quadro 2
QUADRO 2
SUJEITO
MÃO
OLHO

RESULTADO
01
D
D
e
DDe
02
D
e
E
DeE
03
d
e
D
deD
04
D
D
E
DDE
05
D
D
D
DDD
06
D
D
E
DDE
07
D
D
D
DDD
08
D
D
D
DDD
09
D
D
D
DDD
10
D
D
D
DDD
11
E
E
E
EEE
12
D
D
D
DDD
13
E
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E
EdE
14
d
D
E
Dde
15
d
D
D
Dde
16
E
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17
d
D
D
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18
D
D
D
DDD
19
D
D
D
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20
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E
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21
D
D
E
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22
D
D
D
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23
D
D
D
DDD
24
D
D
D
DDD
25
D
D
E
DDE
26
D
D
D
DDD


Nota:
Lateralidades definidas
D - Direita
E - Esquerda
DDD - Destro Homogêneo
EEE - Sinistro Homogêneo
· DDF - Lateralidade Definida Cruzada
· Lateralidades Indefinidas
DeE
deD
EdE - Lateralidade Indefinida
dDE
dDD
EeE
Conforme se pode observar no QUADRO 2, dos 26 sujeitos estudados, 12 foram diagnosticados como destros homogêneo, 7 apresentaram lateralidade indefinida e 4 lateralidade definida cruzada. Apenas 2 sujeitos foram identificados como sinistros homogêneos. Em níveis percentuais esse resultado poderá ser melhor analisado a seguir.
TABELA 3
DADOS PERCENTUAIS PARA OS RESULTADOS DOS PRÉ-TESTES DE LATERALIDADE
Tipos de
Lateralidade
Número de
Sujeitos
(%)
Sujeitos
DH
12
46,2
LI
08
30,7
LDC
04
15,4
SH
02
7,7
TOTAL
26
100
Nota:
DH - Destro Homogêneo
LI - Lateralidade Indefinida
LDC - Lateralidade Definida Cruzada
SH - Sinistro Homogêneo
3.8. SIGNIFICADO DOS DADOS RELATIVOS AO TESTE DE LATERALIDADE
Ao analisar estes dados do pré-teste, percebemos que 12 sujeitos apresentam alterações quanto a definição da lateralidade, isso diz respeito aos sujeitos identificados com LI e LDC. Estes representam um total de 46,1% da turma. Os demais, caracterizados como DH e SH somam 14 sujeitos (53,5%). A inferência que se pode fazer é de que na turma, mais da metade dos alunos possuem lateralidade definida, o que é um bom resultado segundo a literatura consultada. Em relação ao pós-teste 22 crianças foram testadas A redução do número de sujeitos se justifica pelo fato de que na ocasião do pós teste algumas crianças não se encontravam freqüentando a escola. No pós-teste, 03 (13,3%) sujeitos definiram sua lateralidade, 16 (72,7%) não tiveram alteração, permanecendo definidos. Dos sujeitos que apresentaram sua lateralidade definida, 15 (68,D%) foram identificados com lateralidade homogênea e 4 (18,1%) com lateralidade cruzada. No final do estudo 3 (13,6%) tiveram sua lateralidade indefinida.
TABELA 4
DADOS PERCENTUAIS PARA OS RESULTADOS DOS PÓS-TESTES DE LATERALIDADE
Tipos de
Lateralidade
Número de
Sujeitos
(%)
Sujeitos
DH
13
59,0
LI
03
13,6
LDC
04
18,1
SH
02
9,0
TOTAL
22
100
Nota: (ver tabela 3)
De acordo com os resultados, percebeu-se que no pós-teste o número de sujeitos com lateralidade indefinida foi inferior ao número inicial, o que significa uma melhoria. Em relação ao número de sujeitos com lateralidade homogênea também observou-se uma melhora, mesmo que em menor proporção nos resultados do pós-testes, o que representou igualmente um ganho. No número de sujeitos com lateralidade cruzada nenhuma alteração foi feita. Segundo os autores PICQ e VAYER (1976, p.31), VAYER (1977, p.28) e DEFONTAINE (1979, p.25), as alterações da lateralidade-sinistrismo, sinistrismo contrariado, ambidestrismo etc., são encontradas com freqüência na criança, passando a ser a causa primária de dificuldades como alterações da estruturação e dificuldades perante a aprendizagem da leitura; escrita e ditado. Atribuem os referidos autores, a problemas como estes, o fracasso escolar, fobia pela escola etc. Chamam ainda a atenção para o fato de que a criança sinistra, muitas vezes em função do meio ambiente, é forçada a utilizar a mão não dominante, podendo tornar-se "contrariada" e ter em conseqüência dificuldades posteriores na aprendizagem. Esclarecem ainda que as crianças mais inteligentes procuram logo se adaptar com sua mão dominante, resolvendo de maneira mais ou menos feliz os problemas neuromotores. Por outro lado, crianças submetidas à utilização da mão não dominante e que são menos inteligentes sofrem conseqüências posteriores. A experiência revelou-me que inúmeras são as dificuldades encontradas pelas professoras ao assumirem a responsabilidade de ensinar, principalmente quando se trata de ensinar a ler e escrever. É fato que nem todas as crianças aprendem com igual facilidade. Há sempre aquelas que apresentam um maior grau de dificuldade, que demoram mais tempo para aprender. As vezes é fácil diagnosticar o problema que a criança apresenta e que dificulta sua aprendizagem. Problemas de vista, audição e retardo mental parecem ser os mais comuns. Nestes casos medidas como salas de aulas especiais, uso de óculos e aparelhos auditivos, além de métodos de ensino diversificados resolvem consideravelmente o problema. No entanto, existem crianças as quais os recursos citados acima não são suficientes para modificar seu comportamento e promover sua aprendizagem. As queixas das professoras deste estudo referiam-se essencialmente à dificuldade em relação ao aprendizado da leitura e da escrita por parte das crianças, a falta de atenção e o comportamento indesejado que essas assumiam em sala de aula. Aqui cabe-nos evocar NOVAES (op. cit., p. 19), dado que esta assegura que o mecanismo da escrita exige certas condições com as quais não haverá uma evolução harmoniosa neste setor. Estas condições são o desenvolvimento da motricidade, o desenvolvimento mental, o desenvolvimento da linguagem e o desenvolvimento afetivo. Prosseguindo, afirma que a desorientação na lateralidade, além de outros fatores trazem como conseqüência a dislexia. LE BOULCH (1979, p. 97), fortalecendo esta idéia expondo que "a afirmação da lateralidade e a orientação do esquema corporal são de extrema importância para a criança na faixa etária de cinco a sete anos, uma vez que ao ingressar na escola, estará diante de difíceis problemas, os quais terá que resolver. Há um certo risco se a criança for exposta a estas habilidade sem que tenha afirmado sua lateralidade". Diante dos resultados, percebemos que a turma investigada, além de apresentar pontos problemáticos já descritos anteriormente pela equipe de psicólogos, apresentou variações quanto a definição da lateralidade. Estas variações aliadas aos distúrbios de atenção podem em muito estar contribuindo ou poderão vir a contribuir para o insucesso dessas crianças diante as aprendizagens escolares e o seu bem-estar bio-psico-fisiológico
4 - CONCLUSÃO
As conclusões mais relevantes que foram possíveis obter após o término deste estudo dão conta que, na escola onde as crianças estudam há um número de alunos significativamente alto (30 alunos) por sala, um aparente despreparo das professoras, bem como material didático inadequado e insuficiente. Os alunos, sujeitos da pesquisa, pertencem a famílias de nível social baixo, que habitam bairros precários evidenciando-se a ausência de rede de esgoto, calçamento etc. Pelo que constatou a equipe de psicólogos, a gestação de tais crianças foi geralmente, sem planejamento prévio ou indesejada. Em sua maioria são crianças inaptas socialmente, com predomínio de insegurança, impulsividade e imaturidade psicossexual. Algumas apresentam sentimentos de expansão, agressividade despejada no meio, inquietude e escasso controle de impulsos. Em contrapartida, outras são inibidas, reprimidas na expressão de seus sentimentos, depressivas e muitas vezes voltadas para o concretismo e materialismo, o que revela também sua forma de inadaptação, que reflete muitas vezes conflitos familiares, falta de apoio e alto nível de pressão social. Essas crianças demonstram ainda uma carência de afeto e atenção, o que provavelmente justifica uma dificuldade de apreensão de fatos novos e conseqüentemente, distúrbios de aprendizagem e atenção e falta de interesse pelos assuntos escolares. Estas inferências encontram apoio na literatura consultada. De acordo com LAUFRE e Col. (apud GOLFETO 1993, p. 9), dos sete aos nove anos as crianças com características de Déficit de Atenção denotam certa inquietude, agressividade mascarada, dificuldades de atenção, baixo rendimento escolar, conduta anti-social entre outros comportamentos. Variações quanto a definição da lateralidade foi outra característica marcante nesse número de crianças. Há fortes indícios de que estas variações estejam provavelmente causando ou, no mínimo contribuindo para o insucesso dessas crianças com relação as aprendizagens escolares. No entanto, percebeu-se que um programa de atividades físicas interferiu positivamente na definição da lateralidade de algumas crianças. De acordo com o que foi exposto por NOVAES (1970), LE BOULCH (1982) entre outros, a lateralidade é um dos pré-requisitos necessários para que a aprendizagem ocorra de forma satisfatória. A análise feita pelo grupo de psicólogos, o depoimento dos professores de sala de aula, aliados à observação e acompanhamento das aulas de Educação Física, e o resultado dos testes de lateralidade permitiram as seguintes conclusões:
dificuldades na capacidade de atenção/concentração, comprometem a apreensão de conteúdos na sala de aula;
a falta de definição da lateralidade causa dificuldades na aprendizagem da leitura, escrita e ditado;
distúrbios relativos a Déficit de Atenção e lateralidade parecem manter uma relação de causa e efeito entre si;
problemas de ordem social e econômica igualmente comprometem o desempenho e/ou rendimento escolar de muitas crianças.
Assim sendo, os objetivos/conteúdos da Educação Física, quando tratados pelos profissionais da área com compromisso e responsabilidade, podem ser de grande valia para a superação de muitas das dificuldades já citadas. Eles representam um recurso a mais capaz de auxiliar no processo de aprendizagem. Para que o processo de aprendizagem ocorra de forma satisfatória, é necessário que a criança apresente uma série de pré-requisitos, estando entre eles a noção da lateralidade. Neste sentido é que acreditamos na contribuição de um programa de atividades físicas, baseado nos princípios da Educação Psicomotora para prevenir ou corrigir dificuldades relacionadas a capacidade de atenção, a dislexia, a disortografia, as funções psicomotoras e o rendimento e/ou desempenho escolar, assim como problemas de Déficit de Atenção.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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GOLFETO, José Hércules. A criança com déficit de atenção aspectos clínicos, terapêuticos e evolutivos. Campinas, 1993. Documentação não publicada elaborado na Unicamp (Universidade de Campinas).
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GRUNSPUN, Hain. Distúrbios neuróticos da criança. 4 edição. Rio de Janeiro - São Paulo: Livraria Atheneu, 1983. p. 303.
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NOVAES, Maria Helena. Psicologia escolar. Rio de Janeiro: Vozes, 1970.
POPPOVIC, Ana Maria. Alfabetização disfunções psiconeurológicas. 2ª ed. São Paulo: Vetor, 1975.
VEJA - Edição 1464 - ano 29 - nº. 40, p. 18, 2 de outubro de 1996. Editora Brasil.
ROMERO, Elaine. Efeitos de um programa de atividades físicas no rendimento escolar de crianças que apresentam ou não problemas de lateralidade cruzada. 1983. Dissertação (mestrado em educação) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS. Educação Física de base: relato de uma experiência de 1ª a 4ª série de 1º grau e pré-escolar. Belo Horizonte: Secretaria de Educação do Estado de Minas Gerais, 1984.
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