domingo, 19 de outubro de 2008

seu filho é inqueto

Son las cinco de la tarde y desde la puerta de la escuela se escucha el timbre que anuncia la hora de salida. Los gritos de los chicos se confunden con los de las maestras que piden silencio en el patio, mientras tres madres jóvenes dialogan con una abuela, como pidiéndole consejos sobre un problema común: cómo lograr que los chicos se queden quietos aunque sea un minuto y ellas no se sientan desbordadas.
"Es como si tuvieran hormigas en el cuerpo...", dice la abuela con una sonrisa, mientras se apura a recibir a su nieto de primer grado y atender el pedido de la maestra: "Lleva una nota en el cuaderno; tengo que hablar con los padres. ¡Está insoportable. No para de moverse en clase!"
Cada vez más padres, desbordados por la conducta hiperactiva de sus hijos, llegan a las consultas con psicólogos y psicopedagogos en busca de una terapia que les asegure la calma en el hogar. Sin embargo, no siempre se trata de un problema en los chicos. La ansiedad, el estrés y la angustia de los adultos puede ser una parte importante del problema.
Un estudio de la Fundación Aiglé, una organización no gubernamental que se dedica a la investigación y la capacitación en salud mental, demuestra que el 70% de los chicos considerados ?insoportables? tienen un comportamiento totalmente normal para la edad y no necesita terapia ni medicación. En un 20% de ellos, basta alguna orientación a los padres.
?Es normal, por ejemplo, que un bebe de un año de vida toque todo, abra todos los cajones y se mueva porque está en pleno estallido la etapa de la exploración en su desarrollo. Pero si eso ocurre en un chico de 12 años, es una conducta que justifica la consulta?, puso como ejemplo la doctora en psicología Edith Vega, coordinadora de actividades docentes de la Fundación Aiglé.
Para la especialista, es llamativo que hayan aumentado las consultas de padres preocupados porque sus hijos, de entre 2 y 4 años, son difíciles de controlar. ?Por un lado ?dijo?, los chicos son muy sensibles y reaccionan a la exposición a un entorno social más amenazante y atemorizante social, pero por el otro está la dificultad en los adultos de poder enfrentar esas conductas. Es normal que los padres se sientan frustrados y agotados.?
La psicopedagoga Ivana Corrado, de la fundación, coincidió en que si los padres tienen una inquietud sobre la conducta de un hijo, puede ser muy útil consultar con un profesional, pero aclaró enfáticamente que eso no implica que ese chico tenga que recibir psicoterapia o medicación.
?En nuestra sociedad hay una cultura de la psicologización de los problemas, cuando en realidad no toda consulta debe terminar en una terapia ?comentó?. Muchas veces, en hogares donde el padre está muy estresado y la madre pasa muchas horas fuera de casa, los chicos piden como pueden que se les preste más atención.?
¿Cuándo un chico puede ser considerado ?insoportable? por los adultos? Según la psicología Paula Preve, de la Red de Profesionales de la Fundación Aiglé, el límite es cuando en casa o el aula la pregunta surge naturalmente. ?En ese momento se puede hacer una consulta y el especialista deberá descifrar la vulnerabilidad biológica del chico, pero también la vulnerabilidad del grupo familiar al estrés.?
Como bien lo explicó la especialista, no es lo mismo una escuela sin lugar adecuado o suficiente como para que los chicos jueguen cómodamente en el recreo, que una escuela con mayores recursos físicos. Como tampoco todos los chicos responden por igual a las exigencias que se les plantean: uno puede sentir mucha necesidad de moverse, otro de estar más tranquilo, otro percibir más estímulos que sus hermanos o amigos, o bien necesitar que le expliquen algo varias veces.
?Todo esto también debe formar parte de la evaluación?, agregó Preve. Una tendencia riesgosa
Etiquetar a los chicos como ?insoportables? o con mala conducta esconde, según las especialistas consultadas, un grave riesgo para la salud mental y orgánica de los chicos. Las más graves son la medicación innecesaria y el diagnóstico apresurado e improvisado del trastorno de déficit de la atención con hiperactividad TDAH.
?Consultar porque un hijo es demasiado inquieto es una tendencia que vemos que va más allá del hogar: se está extendiendo a los establecimientos educativos y a los consultorios pediátricos. Se llama enseguida a los padres y se le hace a los chicos un diagnóstico rápido y muy orientado al déficit atencional. Esto es un problema muy grande?, dijo la licenciada Miriam Mazover, directora de Centro Dos.
Ante esta situación, una segunda opinión o una interconsulta es lo más indicado. ?Es muy probable que si la consulta la recibe un profesional ético y responsable, la inquietud de los padres termine con una orientación para calmar la angustia y la ansiedad que le trasladan a los hijos ?dijo?. Lo mismo ocurre con la angustia, el desborde y la ansiedad en la escuela. La mayoría de los chicos son revoltosos y ansiosos porque sus padres y el medio educativo también lo son.?

Filhos

Qual o limite na criação dos filhos?
Muitos pais hoje estão tendo problemas em como se relacionar e até educar os seus filhos. Conversei bastante com uma especialista nessa área de relacionamento entre pais e filhos, sobre como educar, como incentivar, como criar posturas e até brinquei com ela dizendo que pai tem de fazer curso, para poder entender os filhos, porque só ser pai ou mãe já não basta. Os nossos padrões de criação já não são os mesmos, não têm o mesmo efeito porque essa geração que está aí é uma geração sofisticada. A especialista com quem eu conversei foi a Dra. Ana Maria Campos, que é psicóloga, especialista em clínica pelo Conselho Regional de Psicologia, especialmente em Psicoterapia Jungiana, que é coligada à abordagem corporal. Ela é especialista em Musicoterapia pela Universidade Paulista de Artes, e trabalha com atendimento clínico para crianças, adultos, adolescentes e orientação aos pais. Ela é uma consultora de educação e atua com diversas escolas. Antigamente, nossa mãe dizia: Teu pai chegou! Era o suficiente. Ficávamos plantados na sala, sentados, duros no sofá e não nos mexíamos mais. Se o pai ainda não tivesse saído da mesa, você tinha que esperar ele sair para se levantar. Será que isso ainda tem efeito hoje? - O quanto é importante estabelecer limites para a criança de hoje? - Educar ainda é a principal tarefa dos pais e da família, muito embora as crianças permaneçam a maior parte do tempo na escola, em atividades extracurriculares. A rotina de cuidar com limites, são as regras que vão dar uma forma, uma ordem, uma organização, tanto da vida cotidiana, quanto da psique da criança e ela vai crescendo com uma maior segurança, pra lidar com as questões afetivo-emocionais, com os relacionamentos, os relacionamentos familiares, e no mundo externo também. - Qual a idade correta pra gente começar a fazer esse trabalho com os filhos ou talvez, até, procurar a orientação de uma consultora educacional e/ou psicóloga? - Bem, a partir dos 2 anos de idade, a criança está pronta para receber as regras e os limites, ela já tem noção e consciência de que é um ser diferente da mãe. É aonde ela começa a formar a personalidade do eu, mas de uma forma mais individualizada, então, é nessa idade que você começa a dizer não e ela a compreender esse não. Então, hoje, nós estamos buscando esse reequilíbrio, porque nem é opressão que inibe a expressão, inibe a criatividade, e nem é nenhum limite e nenhuma ordem, nenhuma regra, porque isso também faz com quem a criança se sinta insegura, não saiba lidar com frustrações, não saiba lidar com as dificuldades da vida. - Quais são os limites hoje dessa juventude tão avançada? Muita gente diz que é rebeldia, que é uma juventude atordoada, eu costumo dizer que é uma juventude avançada, crianças avançadas, espíritos já avançados e hoje a gente tem de saber, na realidade, qual é a dose certa do não e do sim. Até quando dizer não e até quando dizer sim? - Aí cabe o bom senso, que é nato do pai e da mãe. Eu diria que, mãe e pai, têm um bom senso nato na hora de educar a sua cria. - Mas, tem tanto pai sem bom senso e mãe sem bom senso. Será que eles não tinham que por bom senso neles primeiro? Tem muito pai que vai lá consertar o filho e quem precisa de um belo ajuste é ele e a mãe, não é? - Com certeza. As crianças não nascem com problemas de comportamento. Elas vão adquirindo ao longo da educação, ao longo do convívio com os pais e, realmente, a maioria dos pais, às vezes, peca por excesso de super proteção, por excesso de amor, por não querer fazer e repetir o que teve na sua educação e não gostou. Então você falando sobre repressão, opressão, de fato, os pais sofreram tanta opressão e tanta repressão que passaram a ter auto-estima rebaixada, passaram a não se valorizar como deveriam, passaram a não expressar esse criativo, então não conseguiram dar vazão a todo esse potencial e fez com que eles, de uma certa maneira, quisessem apenas fazer diferente e aí, acabou com o bom senso, porque o bom senso, porque educar, o dar regras, dar limites, é muito simples. Primeiro quando a criança é pequenininha, vamos falar dos 0 aos 5 anos, qual é o bom senso do limite? É aquele que a criança não se machuca, não se fere, não vai contra ela mesma e isso é o pai e a mãe a cuidar, porque ela não tem muita noção de perigo, muita noção da realidade, ela pode se colocar em situação mais arriscada, então, assim, o cuidar é o primeiro bom senso. A gente cuida pro nosso filho ter segurança e a proteção e acolhida necessária para que tenha um fortalecimento, uma segurança necessária para se arriscar a crescer e se desenvolver. Então, uma criança de 2 anos tem necessidade de se queimar para aprender que o fogo queima? Essa é a falta do bom senso dos pais. - Eu tenho um amigo, que outro dia me contou o seguinte: que pediu 3 vezes ao filho para não colocar a mão na tomada. Na quarta ele deixou e falou: olha, aí ele aprendeu que dá choque. Quer dizer até onde isso tem efeito positivo na criança? - Como profissional na área, eu diria que não é assim que se educa, porque levar o choque na tomada pode não ter nenhuma conseqüência física grave, mas podia ter. E se aquela criança não suportasse aquele choque? Vamos supor que ali tivesse algum problema que o pai não soubesse e tivesse em curto e a criança tomasse um choque a mais. Que efeito positivo vai ter? Não é por aí, a gente não aprende a ter esse limite a partir da dor, a partir do sofrimento, a gente aprender a ter limite a partir do amor, do respeito e da certeza de que tem alguém mais capacitado, mais maduro, que cuida da gente. É isso que a criança tem de sentir. - Eu vejo muito por aí algumas mães que acabam refletindo nos filhos, muitas frustrações delas. Acredito que muita criança é colocada em balé clássico, por exemplo, o qual a mãe ouviu falar há 10 ou 15 anos e depois que casou – ela mesmo nunca fez – um dia, assistiu um filme e achou lindo e maravilhoso e descobriu que, se ela pudesse, teria feito. Aí ela pega a filhinha dela, que nem tem nada a ver com balé clássico, e coloca a menina pra fazer as aulas e a menina vai ficar lá, fazendo, durante algum tempo e, depois, vai crescer e abandonar o balé clássico e vai odiar isso o resto da vida. Até onde os pais, hoje, usam os filhos pra vivenciarem as suas próprias frustrações e realizações que não ocorreram na vida deles? - É, essa é uma grande crítica, que especialistas na área da psicologia, primeiramente na área da psicologia jungiana, fazem a respeito da educação, porque os pais, muitas vezes, criam a expectativa de que os filhos realizarão seus sonhos não concretizados. Então, uma das coisas a se fazer para se garantir uma boa educação é ser um homem, e uma mulher realizados, na medida do possível, é claro. Então pai e mãe têm de estar felizes consigo próprios, em primeiro lugar, buscando, claro que ninguém está feliz 100%, as próprias realizações. Ela pode apresentar o balé clássico para a filha, mas não com a expectativa de que ela, o anseio da filha, seja o mesmo que o dela, há 10, 15 ou 20 anos atrás, certo? Então eu acho que isso é uma questão muito delicada: os pais devem buscar o seu desenvolvimento pessoal, o seu desenvolvimento espiritual, o seu próprio desenvolvimento como pessoas e como seres capazes de se apropriarem de sua existência. - E se a gente não consegue estabelecer os limites? Como é que fica a situação da criança hoje? - Bem, as conseqüências, são arrasadoras, porque a criança se sente insegura, desprotegida, não sabe lidar com perdas, frustrações e não tem idéia das dificuldades da própria existência. Além disso, dominam, manipulam e exercem uma tirania frente aos pais e acabam sendo a senhoria e dona do lar e que, na verdade, elas não têm condições psicológicas pra suportarem esse papel em que ela se coloca. - E a gente olha praquela coisinha pequenininha e diz: como você pode ser um tirano tão grande, meu Deus do Céu! - Isso. E, por não suportarem essa condição de donos e senhores do lar, acabam se angustiando e com muita ansiedade, às vezes, até deprimindo. - E a hiperatividade, vem daí? Desse fato de não conseguirem estabelecer limites? - Olha, a hiperatividade tem várias formas de se pensar. Uma delas é que seja uma pré-disposição genética até. Mas também acreditamos que tem toda uma ansiedade que muitas vezes não é originária propriamente da falta de limite. Pode surgir já desde o nascimento, uma agitação cerebral, uma agitação maior da própria personalidade da criança, mas, muitas vezes isso é passado dos pais para o filho, de uma forma inconsciente até, que a criança capta, então assim, aquilo que nós falamos, pais que são muito ansiosos, que não estão se sentindo seguros, muitas vezes para cumprir com essa função paternal e maternal, acabam passando isso pra criança. - Essa tendência que está acontecendo hoje das crianças hiperativas serem tratadas com remédios é normal? - Depende do caso. Eu mesma, no meu consultório, já tive vários casos. Tive crianças que foram diagnosticadas por outros psicólogos como hiperativas, chegaram no meu consultório e eu trabalhei com os aspectos emocionais, porque, quando passou por uma avaliação clínica que eu encaminhei, não se descobriu nada que fosse clínico, orgânico, e funcionou, resolveu e, de uma hora pra outra, a criança começou a aprender e a ter mais controle dessa agitação. Era totalmente emocional pela desestrutura familiar. Mas eu acho, por exemplo, de outros casos de crianças que já vieram para mim, encaminhadas por neurologistas, que são hiperativas e precisam de Ritalina, que é o medicamento para esse controle, pois realmente as vi sem a medicação e criam a impossibilidade nessa criança em dar uma continuidade no seu desenvolvimento, no seu aprendizado, de uma forma adequada, então muitas vezes, quando a questão é cerebral, orgânica, o medicamento vem para dar um apoio. A gente não pode ser muito radical, eu mesma sou contra medicamentos mas, quando necessários, a gente tem de fazer um trabalho paralelo. - As crianças hoje têm medo de dormir, não é? E, esse medo de dormir é normal? As crianças acordam no meio da noite. Existe até uma coisa que as minhas estão fazendo muito: deixando uma luz acesa no quarto. E essa coisa de luz no quarto também, na minha opinião, causa um outro problema porque nós temos no nosso cérebro que, durante a noite, quando está tudo escuro, nosso relógio biológico informa que é hora de produzir a melatonina, que é uma enzima fundamental para o ser humano e, de repente, a luz fica acesa ali e o nosso cérebro não registra que é noite. Tanto é que a gente cresce e tem muitos adultos que têm esse problema, essa ausência de melatonina, dessa importantíssima enzima pro corpo humano. E hoje, eu estou vendo aí uma geração com esse problema. Daqui a algum tempo, porque meu filho não dorme, vou deixar uma luz acesa, meu filho acorda no meio da noite, tem medo de dormir sozinho, ele está dormindo na cama da mãe, ele acorda no meio da noite e vem dormir junto com o pai e com a mãe. O que a senhora atribui esse medo da criança dormir sozinha? E essa coisa de ter de dormir com pai e mãe. A gente pode dar aí uma sugestão pros pais que passam por esse impasse? - É, tem um lado nosso, nosso lado bichinho, animal, instintivo que funciona como todas as espécies: a necessidade de se aninhar com os pais é uma coisa quase instintiva, mas, então, assim tem o medo natural de dormir até os 5 anos, às vezes se prolonga até os 6 anos, que é a fase em que ela tem contato com o inconsciente, onde ela está sendo muito mobilizada, por conteúdos do inconsciente, da separação simbiótica da mãe que aconteceu lá pelos 2 anos que é uma separação mais drástica. Aos 4 anos, ela tem umas fantasias: monstros, bichos, então é natural que venha esse medo por um tempo. E, também, tem um medo de dormir, que causa pesadelos, em determinadas fases de transição, então se a gente for pensar dos 6 aos 7 anos, depois aos 9 anos, que é uma fase mais pré-púbere e depois na adolescência, antes de um casamento, quer dizer, existem fases de maior agitação e onde o medo de dormir, os pesadelos, quase vêm de uma maneira natural e normal. O que a gente vê como não natural e não normal é quando isso se intensifica demais e pela freqüência, então, quando começa a impedir a criança de ter uma vida normal, não consegue fazer um passeio, num acampamento, porque num consegue dormir sozinho, num vai pra casa dos avós, num faz nada, nem dorme na casa de um amigo. Aí começa a impedir o desenvolvimento normal dela. Aí é bom estar atento e pedir uma avaliação, uma ajuda, para ver o que está acontecendo. Pode estar acontecendo alguma mudança no meio ambiente, alguma deficiência dos pais, algum trauma, alguma situação mais drástica que ocorreu: um acidente, os pais quando passam por uma cirurgia. Já aconteceu de muitas crianças chegarem no meu consultório e terem muitos problemas e nem conseguirem mais ir pra escola, porque a mãe passou por uma cirurgia, teve complicações, e o medo da perda foi tão grande que ela passou a não funcionar de uma forma adequada. Então, cada caso é um caso. É difícil a gente falar de uma forma geral. Como nós podemos resolver quando é um medo natural e, nada mais influenciando nesse medo: tentar dar segurança em seu espaço, seu canto, sua hora e que é importante ela ter o cantinho dela, as coisas dela, o quarto dela para ter o sono mais tranqüilo, mas que também utilizasse como uma forma de escamotear os problemas, esconder os problemas conjugais, porque o filho começa com o medo natural, aí você vai tendo de trabalhar porque educar dá trabalho. E aí, de repente, o casal não está muito bom, aconteceu alguma coisa com eles, o filho vai dormir no meio dos dois, já é um bom indicador pra mãe ou pro pai a desculpa e a justificativa de não resolver aquilo que é deles também, então por isso digo que a gente tem vários casos e que precisamos estar atentos. - Quantas coisas nós precisamos aprender para lidar com essa geração que vem com uma série de coisas novas até para os pais mais experientes. Bem, existe um processo: normalmente a pessoa vai, casa, e tem um filho. Esse filho cresce um pouquinho, de repente, ela resolve ter outro filho e ela tem um outro filho. Aí cria aquele ciúme do filho mais velho com o irmãozinho mais novo. E, fica aquela coisa: ai meu irmãozinho, que gracinha, e dá-lhe uma torcida! Que gracinha, e joga ele do berço. Gracinha, e dá-lhe um empurrão que ele vai parar do outro lado da sala. E tem muitos pais, e eu noto isso, que quando a gente termina as palestras aí pelo Brasil, depois a gente sempre faz um bate-papo com o público e isso é uma coisa que me perguntam muito. Eu não sou especialista, tenho 3 filhos, eu acho que a gente fica especialista depois que consegue criar todos, não é? Mas, aí a geração que vai vir diz: eu não posso opinar no seu filho, porque o meu filho já é de uma geração anterior à sua, a sua já está mais sofisticada. E como é que a gente resolve essa coisa, quem tem filho pequeno, e você que tem filho pequeno aí, de repente, não é? Como fica o ciúme do irmão mais velho com o irmãozinho mais novo? - É, o ciúme é natural. É o dividir espaço, tem de aprender a dividir um espaço que anteriormente era só seu, e a criança ocupava o centro da família, então o ciúme é natural. O “que gracinha e de repente dá uma machucadinha na criança”, pode acontecer e é por isso que os pais devem estar atentos. Primeiro, dar bastante atenção pra esse mais velho no sentido de mostrar que ele não vai perder o lugar dele de primogênito. E que ele vai ser também alguém que vai ajudar a cuidar daquele irmãozinho mais novo. Se a criança perceber uma maior segurança nos pais, em relação a essa diferença de idade, essa manifestação da maldade não é pra deixar de lado, mas também, não exacerbar. Não exagerar porque se a criança percebe que os pais ficam desequilibrados ela vai repetir com mais freqüência. Porque criança, eu sempre digo, tem um lado impiedoso e manipulador. - A Sra. acha que a criança é impiedosa mesmo? - Tem um lado impiedoso. - É mesmo. Eu já vi. - A natureza é pura, mas tem um lado impiedoso. Ele quer manipular. - Os pais falam: Meu Deus, eu tenho um filho tirano, 8 anos e impiedoso também, além de tirano. E ainda me faz chantagem. Agora tem também aí uma coisa que é interessante: a chantagem. Meu filho se você passar de ano te dou isso. Se você se comportar direito te dou aquilo. Se você fizer isso você ganha aquilo e aí fica na chantagem. Se fizer ganha, se não fizer não ganha. Qual o efeito disso? Qual a validade disso e, realmente, esse tipo de atitude é uma atitude que a gente diria educacional emocionalmente para a criança? - Não, a chantagem não é saudável. Agora é interessante como tem duas questões importantes. Quando você diz chantagem é, se você fizer eu te dou. Se toda vez você precisa dar alguma coisa pra criança responder você não está dando responsabilidades dela ter de cumprir com alguns deveres. Então, isso é a chantagem. Agora, retirar aquilo que ela gosta como um castigo, retirar um presente, retirar um passeio, quando não se comportou bem, quando ela não estudou, quando ela teve um comportamento inadequado, isso é saudável porque é melhor que apanhar, não é? Eu não acho que batendo você vai educar. Às vezes, uns bons tapas também não fazem mal, na bunda, bumbum foi feito pra isso... - Um lugar bem molinho... - Bem molinho, foi feita pra tomar uns tapinhas, mas na hora certa. - Olha aí criançada! - Na hora certa, não é? Mas, por um motivo mesmo. O que acontece com os pais? Os pais batem ou castigam quando eles já estão por conta do estresse e não porque a criança teve um mau comportamento. Ela não mereceu exatamente... - Interessante essa sua colocação. Eu gostaria até que a repetisse, porque essa colocação tem de causar uma reflexão muito grande nos pais. - Os pais, às vezes, punem os seus filhos batendo ou castigando, porque não estão confortáveis ou não estão pacienciosos ou, ainda, não estão equilibrados naquele momento. Isso é o que estraga a educação. Isso a gente chama de uma situação onde a criança vai apanhar injustamente. E, assim, olha a injustiça, o apanhar fora de hora, a humilhação isso não traz educação. Agora, se a criança se comportou mal e você pode tirar o brinquedo que ela gosta, o videogame por um tempo, isso faz com que ela aprenda. Isso não é chantagem. Isso é mostrar pra criança que se ela não se comportar bem ela vai ter perdas, porque a vida é assim pra todos nós. Agora só dar presentes pra que ela faça é chantagem. Isso é totalmente negativo na educação. Então, cuidado, porque os pais, hoje em dia, muitas vezes, pra compensar a falta de tempo ou falta de paciência dão demais e as crianças passam a manipular também o ambiente por isso. - A gente falou sobre tirania, sobre falta de piedade, chantagem, fatos que estão sondando as nossas “crioncinhas”, não é? As nossas criancinhas, ou seriam “crioncinhas”? - Depende da educação que os pais derem vão criar “crioncinhas”. - Vamos sair das crianças e vamos aos enigmáticos adolescentes. Os mudos adolescentes. Aqueles que sabem olhar pra gente e falar: “ahn”, “ok”, “tá legal”, “falô”, “tá bom”. Qual mais expressão que existe? “Belê”. Agora a onda é tudo abreviado, não é? “Belê”, “chalê”. Então, vamos sair dos 8, e ir pros 16 até os 19. Os aborrecentes agora. Hoje, eu tenho notado que os adolescentes estão abreviando muita coisa. A gente sente até falta de linguagem, às vezes, eu falo muito em universidade, em escola, e eu sinto dificuldades até de eles se comunicarem porque eles falam por tantos enigmas e vão abreviando tanto as palavras que, na minha opinião, nem eles sabem mais o que significa aquela palavra por completo. O que a gente deve fazer para ter um bom relacionamento, de bastante amizade, com esses filhos? O que a gente deve fazer para amá-los com dignidade, e para que nós os mantenhamos totalmente afastados desses perigos todos, que rondam a vida deles fora de casa, e termos o cuidado de “adotarmos” os nossos filhos para que eles não sejam adotados aí fora por algum caminho tortuoso? Como é que a gente se comunica com eles? Porque é um problema de comunicação: a gente os traz pro nosso mundo ou a gente vai conseguir ir pro mundo deles? - Você começou bem dizendo que os adolescentes são enigmáticos. É uma fase de transformação onde o metabolismo, os hormônios, principalmente os hormônios, estão muito alterados e realmente eles também se sentem os esquisitões, não é? É uma fase onde eles estão se acostumando à nova altura, ao novo tamanho do braço, ao novo tamanho da perna: eles são os desajeitadões também. Muitas vezes não sabem muito bem onde põem a perna, onde põem o braço, porque crescem demais, quer dizer, pra eles também é uma fase enigmática, uma fase de esquisitice e por isso a gente chama de aborrecentes. Porque eles estão se sentindo aborrecidos também, querendo descobrir tantas coisas, e numa fase de tantos questionamentos. Você disse assim: “o que fazer , qual a solução para mantê-los totalmente afastados dos perigos”. Mantê-los afastados totalmente dos perigos é muito difícil de se garantir, mas, é importante que o filho perceba que ele tem um canal aberto com os pais, mesmo que o pai não saiba se comunicar exatamente na linguagem do filho, ele tem de saber e ter a certeza de que, se ele quiser, este é um canal aberto, assim, a estrutura familiar é muito importante desde sempre. Começamos falando da estrutura da criança e aí é nessa continuidade da linha da educação onde existe a família mais estruturada. E, mais estruturada não significa estar 100%, tudo certinho, podem ser pais separados, mas que souberam lidar com a situação, que souberam lidar com as diferenças de idade, que souberam entender esse momento do filho na adolescência, então, se os pais estiverem presentes, acompanhando os amigos, quem são esses amigos, quem são as famílias desses amigos. Como é que você vai perceber e avaliar com quem o seu filho está andando? Percebendo se a família do amigo tem os mesmos valores, os mesmos princípios, a mesma direção de educação, isso é muito importante, a mesma religiosidade, ou então que seja uma religiosidade onde se aceite e respeite a sua também, a da sua família, que respeite algo maior, então não é temer a Deus, mas hoje em dia, não se fala muito mais em religiosidade e está faltando isso nas famílias, não é? É importante dar uma base para a família: a base que você teve, a base que você acredita, porque isso também é uma forma de educar bem seu filho. Então são muitos os detalhes, mas o mais importante é o amor, compreensão e respeito. Eu acho que essa tríade mostra o tempo inteiro, desde que seu filho nasce, de que é uma via que vai circulando entre todos, entre os pais, as crianças, quer dizem se esse respeito for mútuo, se a compreensão for mútua isso tudo vai abrindo um pouco os canais. Agora você falou; “ah, eles não sabem se comunicar”. Bom, também a comunicação mudou, agora é a internet, é o computador, então você fala quase de forma telegráfica já, não é? Está ficando mais difícil por um lado. Facilitou pra se comunicar com o outro lado do mundo, com o outro lado do universo, mas os jovens estão cada vez mais conversando menos, se expressando menos, certo? Então, a família precisa resgatar isso. Resgatar aqueles velhos costumes: jantar em família, ou almoçar em família, ter uma refeição em família, onde se converse, onde se troquem idéias. O filho precisa perceber que os pais estão presentes. - Como é que a gente tira da sala aqueles tênis imensos, com aquele odor espetacular? Como é que a gente faz o adolescente arrumar o quarto dele? Como é que a gente faz ele pendurar a toalha e não jogar no chão do banheiro? Como é que a gente faz quando entramos no quarto dele e não vermos aquela roupa espalhada, aquela fila de roupa. Como é que a gente põe regra pra um adolescente? Como é que a gente põe regra pra uma pessoa que, às vezes, quando a gente fala sai andando? Porque adolescente sai andando agora, principalmente, se o assunto é com ele. Se o assunto é relacionado à educação, sai pela porta. E como é que a gente coloca, como é que a gente chama a atenção dele para esses detalhes que são importantes? Eu costumo brincar com os meus e dizer “olha o dia que você casar vou contar para sua namorada que você fazia isso”. A gente brinca porque sua namorada num vai gostar nada disso. Se você casar não vai achar bom. Como é que a gente bota regra em adolescente? - Eu sempre digo pros pais, é papel dos pais dar as regras, ensinar, reclamar, insistir, falar mil vezes sobre o que deve ser feito. - Mil? - Mil. Um milhão. Duzentos milhões de vezes. - Esse é mais ou menos como fazer o bem. Um dia perguntaram pra mim: “Até quando eu devo fazer o bem? Até quando a gente de ser bom nesse mundo?”. Eu falo: Olha você deve ser bom até você ser melhor e aí você vai ser melhor porque é importante você fazer o bem enquanto você viver. - É, porque o adolescente também está numa fase onde ele precisa se contrapor aos pais, então, o tênis no meio da sala, o dizer não, o brigar porque quer insistir em chegar tal hora, ele também está no papel dele. Agora, claro que os pais devem saber que algumas regras têm de ser cumpridas e exigir isso. E, todo pai sabe como exigir isso, se estiver seguro de que aquilo é o melhor pro filho. Então, tem de saber onde está, tem de saber com quem está, tem de saber que hora vai voltar, tem de ter hora pra voltar, não importa que idade tenha. É essa a regra. Ele, é se contrapor ao pai, brigar, xingar, resmungar e o pai e a mãe estarem firmes, brigando pelo cumprimento das regras. - E que firmeza hein? Bem, suas considerações finais. Uma mensagem aos pais que querem fazer uma boa criação, criação digna para esse espírito futuro. - Eu diria, pros pais não perderem de vista os seus valores, os seus princípios, as suas crenças, terem segurança do que buscam enquanto seres, enquanto sentido de vida, enquanto seu papel nesse mundo e que criem seus filhos com amor, respeito e compreensão.